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INTRODUCÇÃO

I

O ENSINO DA ARCHITECTURA

Antigamente o ensino da architectura e das outras bellas-artes não era ministrado em estabelecimentos publicos, de organização official, como os que existem em nossos dias. As officinas, de caracter inteiramente pratico,

que exerciam as funcções de escola, com resultado não menos proficuo, como o attestam as numerosissimas obras-primas, em todos os generos, produzidas por tantos povos e durante tantos seculos. É incontestavel que havia entre nós, de longa data, o cargo de architecto ou mestre de obras, assim como outros de designação differente, mas esse titulo não envolvia o dever do professorado, tal qual se comprehende actualmente. Foi no começo do periodo filippino que entre nós se criou uma cadeira de architectura, dando o Estado uma tença aos aprendizes, que nella se instruissem. Depois de a frequentarem, ou ainda durante a sua frequencia, devidamente habilitados, eram promovidos a outros logares em que exercessem as funcções da sua especialidade.

Parece que o primeiro mestre encarregado de ensinar esta materia föra Filippe Terzo, que viera para Portugal no reinado de D. Sebastião, a quem acompanhou na segunda jornada de Africa, ficando prisioneiro na batalha de Alcacer-Kibir. O empenho e presteza, com que foi resgatado, mostram bem a valia em que era tido. Não encontrámos o diploma que o nomeou para tal cargo, mas um alvará de 24 de setembro de 1598 designa Diogo Marques Lucas para um dos tres logares, que ora ordenei

de

pessoas naturaes d'este reino, para haverem de aprender architectura com Filippe Tercio. Os pensionistas recebiam de ordenado annual vinte mil reaes, e, além da cadeira de architectura, eram obrigados a fre

quentar a de geometria, regida pelo cosmographo-mór, que naquelle tempo era o celebrado João Baptista Lavanha. Necessariamente, ter-se-ia formulado algum regimento, regulamentando este assumpto e determinando as obrigações dos professores e alumnos, mas não encontrámos o seu registo, nem noticia delle.

A Filippe Terzo succedeu Nicolau de Frias, segundo se deprehende do alvará de 11 de junho de 1598, que nomeou Francisco de Frias para aprender com elle architectura.

É difficil estabelecer a lista chronologica, rigorosamente exacta, dos professores de architectura, não só porque não apparecem os respectivos diplomas, mas tambem porque não veem designados os seus nomes nas cartas dos pensionistas, nas quaes se diz que elles aprenderiam com o mestre de obras que lhes fosse designado. No alvará de 16 de fevereiro de 1647, nomeando Matheus do Couto, diz-se que elle continuaria aprendendo com seu tio, do mesmo nome. Daremos agora uma nota dos aprendizes de architectura, com as datas das respectivas nomeações:

Diogo Marques Lucas-14 de setembro de 1594. Succedeu-lhe Matheus do Couto.

Francisco de Frias-11 de junho de 1598. Succedeu-lhe Henrique de França.

Henrique de França-10 de maio de 1602. Succedeu-lhe Eugenio de

Frias.

Eugenio de Frias-27 de abril de 1611. Succedeu-lhe Theodosio de Frias Pereira.

Antonio Simões-Não encontrámos a carta da sua nomeação. Sabemos, porém, que em 1604 fôra substituido por Pero Nunes Tinoco.

Pero Nunes Tinoco-20 de setembro de 1604. Succedeu-lhe Diogo Paes.

Diogo Paes-1624. O respectivo alvará não traz o mês. Matheus do Couto-20 de setembro de 1616. Succedeu-lhe André Ribeiro Tinoco em 24 de fevereiro de 1629.

Theodosio de Frias Pereira-9 de setembro de 1631. Succedeu-lhe Manuel Martins Cavalleiro.

Manuel Martins Cavalleiro-4 de fevereiro de 1641.

Antonio Torres-Nomeado a 20 de novembro de 1647, em substituição de Theodosio de Frias Pereira, promovido a mestre das obras dos paços da Ribeira.

André Ribeiro Tinoco-Filho de Pero Nunes Tinoco. Nomeado em 24 de fevereiro de 1629, em logar de Matheus do Couto, que fôra promovido a mestre das obras dos mestrados de S. Bento e S. Tiago. Succedeu-lhe João Nunes Tinoco.

João Nunes Tinoco-Irmão do antecedente, a quem succedeu em 29 de dezembro de 1631, por aquelle ter entrado na Companhia de Jesus. Diogo Tinoco da Silva-Sobrinho do P. Francisco Tinoco da Silva, architecto dos paços da Ribeira, com quem aprendia. Nomeado em 10 de outubro de 1690, em substituição de Manuel do Couto, promovido a architecto dos paços de Salvaterra, Almeirim e Mosteiro da Batalha.

Manuel do Couto-Não encontrámos a sua carta de nomeação, mas no decreto de 8 de outubro de 1686, que o incumbe de assistir na fortificação de Peniche, se diz que elle era discipulo da aula.

Luis Nunes Tinoco-Succedeu-lhe Manuel Lopes da Silva.
Manuel Lopes da Silva--Nomeado em 6 de junho de 1691.

José Rodrigues Ramalho-Em 10 de abril de 1707, foi encarregado da horta dos paços da villa de Salvaterra de Magos, e na respectiva carta se diz que servia ha quatorze annos uma das praças de aprender architectura, sob a direcção do P. Francisco Tinoco da Silva.

João Antunes-Não encontrámos a carta que o nomeia aprendiz de architectura, mas em 29 de junho de 1699 foi promovido da praça de aprender architectura civil á praça de architecto, que vagára por fallecimento de Francisco da Silva Tinoco.

Pedro Ramalho-Era aprendiz dos paços da Ribeira e succedeu-lhe por sua morte Antonio Carlos Andreis.

Antonio Carlos Andreis-Foi nomeado para substituir o anterior em carta de 20 de julho de 1750.

II

OS ARCHITECTOS DA BATALHA

O Mosteiro de Nossa Senhora da Victoria, ou da Batalha, como vulgarmente é conhecido, é um dos monumentos que surgem mais rutilantes do solo português e de que mais nos podemos orgulhar, porque, além de ser uma joia artistica de inestimavel valor, synthetiza um dos feitos e uma das épocas mais gloriosas da nossa historia. Dir-se-ia a armadura de pedra

de um paladino gigante, que ficou immovel, no campo do torneio, numa serenidade heroica, patenteando aos seculos a permanencia do seu triumpho. O voto de D. João I foi sincero e ardente, e, se não devemos estranhar a sinceridade numa era de fé tão viva, não póde deixar de surprehender a extraordinaria presteza com que o vencedor de Aljubarrota tratou de dar cumprimento á sua promessa, pois os cuidados da guerra, no mais acceso da lucta, não o desviaram do seu firme proposito. A obra como que tem a caracterizá-la esta energia de vontade, e na unidade da sua concepção e na pureza do seu estilo se revelam a harmonia e intensidade do pensamento primordial que lhe deu o ser. O architecto que a delineou, e que, se não a levou a cabo, lhe deu grande impulso na execução, soube merecer a confiança do monarcha, traduzindo a sua bella ideia em todo o esplendor da fórma.

É extensa a lista dos architectos da Batalha, prolongando-se ella, durante um periodo, mais ou menos laborioso, de cêrca de dois seculos, mas a actividade de cada um é bem differente, reconhecendo-se sem difficuldade que a obra teve um impulso vigoroso durante o primeiro quartel da sua iniciação, contribuindo esta circumstancia para que não appareçam anomalias de estilo nos seus membros principaes. O plano primitivo foi respeitado, sem que o capricho de um mestre tentasse modificar o que realizára o seu antecessor. Ha um ar de parentesco legitimo entre a igreja, a capella do fundador, o claustro real, a casa do capitulo, e ainda outras dependencias que parecem fundidas de um jacto, no cadinho da mesma inspiração.

Dada a natureza do nosso caracter, cuja tendencia é duvidar da validade de tudo o que seja nacional, não admira que o edificio da Batalha appareça como um grande ponto de interrogação na historia da arte portuguesa. Os incredulos, os que suppoem que o genio esthetico português seria incapaz de tamanho esforço, baseiam a sua theoria ou a sua hypothese na circumstancia de que antes da Batalha não havia outro edificio que denunciasse tão vigorosa genese. Semelhante asserção não nos parece todavia nem irrefutavel, nem tão pouco ainda comprovada. Construcções importantes, já no estilo gothico, já no estilo romanico, se effectuaram durante toda a primeira dynastia, e lá está Alcobaça, bem perto da Batalha, a defrontar-se com ella.

Contemporaneos d'esta ultima, tres outros edificios religiosos poderiam servir de termo de comparação, revelando o estado da architectura em

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