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negocio e demandas entre o bispo e cabido de Lamego e Lopo Soarez thezoureiro d'aquella see. Eu tenho nisso feito hum conserto que a todos esta bem que virá em effeito consentindo o bispo e o dito thezoureiro se pos em minhas mãos e mostrou em tudo fazer o que da parte de Vossa Alteza lhe eu ordenasse.

Alguas outras cartas tenho tambem recebidas de Vossa Alteza em favor de partes contra outras em que tenho feito o que pude, e vendo eu de quanta importancia he o favor nas causas de justiça se me faz de muito escrupulo executar as dittas cartas e de muito tambem não fazer o que me Vossa Alteza manda porque favorecendo hua parte he necessario que desfavoreça a outra com mostras e com palavras e que me escandelize quando em nome de Vossa Alteza falar a algum que desista da demanda e elle o não quer fazer inda que mostre boas rezões pera sua justiça e sendo os maes destes portuguezes gente muito baxa e de pouco momento, não he autoridade de Vossa Alteza quando os não tem em parte pera elles obedecerem aos mandamentos e a rezão tratar de suas cousas pòr rogos. Portanto seria de gram serviço de Vossa Alteza deixallos com a Rotta e os que comettem n'estas demandas descortesias e cousas dignas de castigo castiguallos muito bem em seu tempo por (sic) emfim todos laa an de tornar e muitas vezes antes que venhão se sabe suas tenções e assi deve Vossa Alteza estar advertido que a nenhum portuguez escreva em nenhum negocio e quando parecer se lhes deve dizer algua cousa bastara o embaixador. Tenho ditto isto para me satisfazer do scrupulo e dessosseguo em que estas cartas me poem e para pedir a Vossa Alteza as mande dar com muita consideração e a mim aja por escusado de entender em demandas das partes inda que tenhão algua colligança com o serviço de Vossa Alteza se não for de grande importancia porque me dá nisso muito trabalho em que se não escusam desgostos e eu não poderei com tal peso e tão improprio de minha profissão e natureza. Nosso Senhor vida e real estado de Vossa Alteza guarde e accresente em seu serviço de Roma 18 de janeiro de 1560 1.

1 Copia, na BIBLIOTH. D'AJUDA, Cartas de Lourenço Pires de Tavora, fol. 54 v.

Carta de Lourenço Pires de Tavora a el-Rei

1560 — Janeiro 18

Senhor-Deixei o negocio de Pombeiro para ser a derradeira cousa que tratasse porque não podendo athe ontem aver de Sua Santidade detreminada resolução nelle ficou para o fim da escritura. Pella que escrevi em 30 do passado veria Vossa Alteza a facilidade com que o papa concedeo esta graça a mim e ao cardeal Sancta Flor a instancia de Vossa Alteza e como me pareceo tinha soomente o pejo em o Vossa Alteza querer para os frades em eleição triennal pello qual recebida a carta de Vossa Alteza de dezaseis de novembro em que me mandava o pedisse logo em nome do senhor Dom Antonio parecendo me que compria com o mandamento e que proporia cousa grata a Sua Santidade lhe fallei da maneira que Vossa Alteza pella ditta carta me ordenou. Perguntou me o papa quem era este senhor e se avia de ser frade disse lhe que filho do senhor infante Dom Luis que estê em gloria respondeo me logo resoluto, como em tudo custuma que como queria eu desse o mosteiro em encomenda que soya andar em titolo e mais a bastardo, tendo lh o pedido para reformação e para eleição trienal declarei lhe como era este senhor natural e que para ser provido em toda dignidade e beneficios tinha larga dispensação e graça para em nenhua concessão se fazer menção da bastardia e que isto he a vontade de Vossa Alteza em tudo lhe diria (sic) em outra pratica com mais comodidade a entender e que emquanto o via com aquelle escrupullo me contentava com a merce da maneira que ma tinha concedido e que para effeito della se espedisse a suplica em cabeça do cardeal Sancta Flor a instancia de Vossa Alteza como estava ordenado e que depois se mudaria ou nos frades ou no ditto senhor Dom Antonio como a Sua Santidade melhor parecesse. Respondeo que estava bem e que elle falaria tambem com o camarlengo e não comprendi nelle ser isto mudança de vontade para negar a graça em Puteo (sic) ao meo engano na primeira pratica e a hua demostração superticiosa da reformação e que seria por ventura pa

1 Talvez: emputê o ao meu engano

recer doutros cardeaes que são de opinião não se conceda em encomenda o que soe andar em titolo e não me podia parecer que em cousa tão asentada pudesse aver quebrantamento de palavra, dei conta ao protector para que fizesse o officio necessario e procurasse por sé assinar a graça em sua cabeça Soccedeo di a poucos dias visitando eu o cardeal Montepolichano de mal desposto dizer me elle lhe mandara o papa dizer por o cardeal Fernés lhe fazia merce naquella abbadia de Pombeiro de dous mil cruzados de pensão. Eu me espantei daquella repartição sem mim tendo me Sua Santidade ditto se resolveria nisso comigo, e assi tambem da gravesa de tanta pensão perguntando lhe pella valia do mosteiro disse me que entendia passava de quatro mil cruzados e que não era desacustumado assinalaren se a metade dos frutos e pensão, e que assi o tinha feito o comendador moor nos mosteiros que em nome de Vossa Alteza tinha avido e posto que nesta semrezão tratei com elle mais largo, não me quis resolver com escandalo seu porque quis primeiro entender do papa o como isto passava e dando logo conta ao proctector se maravilhou da cantidade e da merce sem se lhe dar conta fallei a Sua Santidade perguntando lhe se estava ja resoluto em quem avia de pôr aquella pensão e na cantidade não lhe fallando em Monte polichano disse me que inda não era resoluto nisso tornei lhe a pedir o fizesse e se puzesse o mosteiro em cabeça de Sancta Flor como estava ordenado disse que o faria. Contentei me com por então saber que ou Monte polichano estava enganado ou me enganara solicitando sempre Sancta Flor para que fizesse assinar a supplica e elle procurando nisso com o datario, não pondo nenhua duvida na concessão da graça.

Depois me mandou dizer Monte polichano como fallando com o papa e agradecendo lhe a merce que lhe tinha mandado offerecer por Fernes lha negara e respondeo que não dissera tal ao dito Fernes, não ousou o Monte polichano aperfiar mas esta asaz escandalizado e assi diz o esta Fernes e não fallão e eu vendo não se espedia nenhuns outros beneficios sofria a dilação neste e tomando ontem achaque com a espedição deste correo dei conta a Sua Santidade como o despachava e que tendo eu escritto por outro a Vossa Alteza a merce que me elle tinha feita do mosteiro a instancia de Vossa Alteza era necessario avizallo aguora da resolução de Sua Santidade acerqua da pensão que me tinha ditto lhe queria pôr. Respondeo me sem eu acabar que elle me fizera aquella graça para a reformação do mosteiro e para ser trienal e que eu depois por

nova commissão de Vossa Alteza lho pedira pera o senhor Dom Antonio e que avendo o elle de dar para outra cousa tinha feito merce delle a hum seu sobrinho com penssão a huns cardeaes pobres. Respondi lhe maravilhando me muito daquella novidade e mudança de tanto escandallo para mim e desgosto para Vossa Alteza tornando lhe a resumir tudo o que com elle tinha passado e provando lhe que pedindo Vossa Alteza a graça doutra maneira da que estava concedida não o podia impedir e que a minha petição foi a beneplacito de Sua Santidade resolvendo me logo naquella pratica que a queria como estava concedida, e que para esse effeito ou outro se a Sua Santidade depois lhe parecesse bem se pusesse em cabeça de Sancta Flor e assi lhe disse que eu vinha determinado a lhe pedir que a pensão que assinalasse naquelle mosteiro fosse para algum seu sobrinho porque cria eu folgaria Vossa Alteza ser o primeiro principe por cuja mão os parentes de Sua Santidade recebessem merce e ajuda mas que vendo o que elle aguora ordenava seria hum grande descontentamento para Vossa Alteza ver lhe negava o que hua vez lhe tinha concedido, sendo soo aquella merce que em sua criação lhe pedira e sendo de tanta importancia aquelle mosteiro pela parte do reyno em que estava e tão necessario ao serviço de Deus o que Vossa Alteza delle queria despor tornou me a responder querendo encobrir a falta de palavra que me tinha dado pella mudança da petição de Vossa Alteza disse lhe que no requerente não podia nunqua caber quebrantamento de palavra principalmente aceitando loguo como primeiro era concedido e que em quem concedia cabia este nome quando se mudava que considerasse Sua Santidade isto bem não quizesse descontentar no principio de seu ponteficado hum rey tão benemerito desta santa see appostolica, e sempre tão obediente filho que visse que fazia muito pequena merce a seu sobrinho e aos cardeaes da pensão pois repartindo por elles a renda e pellos frades caberia a todos pouca parte e trabalhosa de arrecadar, e lhe perguntei que informação tinha da valia do mosteiro, disse me que poderia com tudo porque rendia seis ou sette mil cruzados alleguei lhe com Monte polichano como pratico do reyno no que me tinha ditto dos quatro mil e que ao recolher se veria quanto era menos que me parecia muito melhor talho por algua justa penção para aquelle seu sobrinho e o titolo dalo para quem ou para o que Vossa Alteza ordenasse e desta maneira ficaria o sobrinho acomodado e Vossa Alteza sem o escandalo em que o avia de pôr esta falta da graça que lhe estava concedida, e eu fora da afronta em que me esta no

vidade tinha posto, e desta maneira apertei muito com elle. Resolveo sse que elle me não podia logo responder que falaria com seu sobrinho pois The ja tinha feita a merce e que não descontentaria Vossa Alteza nem a mym e isto me repetio por vezes e que falaria tambem com o protector não fui mais por diante com o que nesta materia avia para dizer assi no escandallo da falta de palavra em pessoa que reprezenta fee como na causa que o move a quebralla que he interesse de dinheiro aos seus (exemplo tam dannoso neste principio) e o pouco respeito a reformação de re ligião e dar o mosteiro tanto sem escrupulo a hum sobrinho em encomenda fazendo o tão grande de o dar ao senhor Dom Antonio tanto parente de Vossa Alteza e tão desposto para o reformar porque mostrando elle queria satisfazer e pedindo tempo para isso era melhor guardar tantas e tão fermosas rezões para o tempo de mais necessaria justificação se elle não tornar ao que concedeo como spero que fara, porque não pode ninguem ser de tão rudo entendimento que não se arrependa da mais vergonhosa cousa que se podia cometer. Eu fallei logo ao bispo de Folinho e ao senhor Gabrio seu irmão que são dous dos sobrinhos de que elle aguora faz mais conta tirando o abade Borromeo que he o a quem da o mosteiro e o conde Federico seu irmão que são filhos de hua irmaã de Sua Santidade e que elle tem por maes illustres e nestes parece por agora fara seu assento e o accresentamento e perpetuidade de seu nome. Ao dito bispo e seu irmão dei conta de tudo o passado encarecendo lhe a graveza do cazo e affirmando lhe e dando a entender o que se disso podia seguir e quam pouca sperança podia ter de lograr isso quem desta maneira o ouvesse pedindo lhes intercessão com seu tio pello que a Sua Santidade toquava prometterão me boom officio e creo o farão em toda occasião porque não os senti contentes da avantajem que o papa fez aos outros. Busquei logo tambem o dito abbade Borromeo achei o em casa de Sancta Flor em visitação e diante do dito cardeal contei a ambos o que com Sua Santidade tinha passado sintindo me da causa de tal escandallo e do descontentamento que seria a Vossa Alteza aquelle modo dando lhe a entender o que lhe a elle estava melhor e que para isso seria eu bom ministro ante Vossa Alteza pedindo lhe por seu respeitto e por outras merces que podia esperar fosse elle abbade o que pedisse a seu tio mudasse a concessão como me estava feita. Sancta Flor lhe deu a entender o caso e lhe disse quanto lhe melhor estava da maneira que lho eu offerecia que da que o papa o tinha ordenado; respondeo que elle não sabia daquella ma

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