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Carta do Conde da Vidigueira,

Embaixador em França,

ao P.o João de Mattos, Assistente da Companhia

1644-Junho 24

Tenho alcançado por aviso certo, que o Jeral elleito da ordem de Sam Domingos o padre Turcho se mostra tam obrigado e parcial de Castella que com novos e injustos decretos offende a coroa de Portugal, e o respeito de Sua Magestade sendo hum delles mandar que se confirmasse hum decreto do capitulo geral que se fes em Bolonha no anno de 1615 em que se ordenava que o convento que está na cidade de Macáo, na China, e pertence á congregação da India de Portugal se entregue á Provincia das Philipinas, que he de castelhanos, por aver sido fundado por ella, e alem de que isto se não executou nunqua, ainda no tempo que as coroas de Portugal e Castella estavão unidas, nem lá se consentirão castelhanos, nem em todos os estados da India, e ouve cinco capitolos geraes, e se não falou nunqua nisso, depois do sobreditto de Bolonha, e ainda que os fundadores forão das Philipinas, não faz isso dereito algum, pois, como Vossa Paternidade sabe, isso não obra em Reinos differentes, e com Reis soberanos, e se vé que os fundadores da relligião de S. Bernardo em Portugal forão de França, os da relligião de Iheronimo (sic) forão de Castella e nem por isso ficarão sogeitos nem o são a outro Reino, ou provincia delle, e pouco ha que em rezão das desunião (sic) dos dous Reinos alcançarão os Carmelitas Descalços ficarem independentes em Portugal, e assi he contra a rezão de justiça a novidade em que agora fala o Padre geral.

O outro decreto foi sobre separar da provincia de S. Domingos de Portugal os conventos da mesma ordem que estão na India, de maneira que no mesmo tempo em que ajunta aos castelhanos das Philipinas os frades portugueses de Macáo, em dous Reinos contrarios, e differentes, só por cauza da fundação offende a mesma nos fundadores, que forão de Portugal, e aparta os portugueses dos portugueses, e os membros de hua só coroa com separalos.

E assi recomendo muito a Vossa Paternidade que com sua prudencia, e zelo, acuda a isto, reprezentando ao dito Padre generalissimo o escandalo que dará a Sua Magestade e ao Reino de Portugal em fazer estas novidades, e mostrar se apaixonado e castelhano, contra o serviço de Deos, e o bem commum da sua Relligião, dando hua geral desconfiança de suas acções, e isto sem obra nem effeito algum porque Sua Magestade como Rey, e soberano Senhor de seus Reinos, lhe não ha de consentir que nas dittas duas couzas tenhão effeito algum suas ordens, e pello contrario, se proceder com o respeito e igualdade, que se espera de suas obrigações ao cargo que tem, ficará Sua- Magestade reconhecido e o respeitará como

convem.

E porque o Padre frei Antonio dos Anjos procurador da India disse, que não tinha duvida ao ditto primeiro decreto, e instancia das Philipinas, e contra a ordem que Sua Magestade lhe avia mandado que se recolhesse a Portugal e dizistir da instancia, que fazia sobre a separação da provincia da India, foi continuando nella, e sendo cauza destas novidades lho estranhará Vossa Paternidade como convem, assegurando o de que se logo não remediar hua e outra couza, e dizistir de sua instancia procederá Sua Magestade a seu respeito de modo, que outros se não attrevão a faltar a sua Real obediencia, a que deve dar logo satisfação, e sair se de Roma, e sobre as dittas duas couzas será serviço de Sua Magestade fazer Vossa Paternidade diligencia com todas as pessoas que nisso puderem contribuir com informação particular de tudo, e ajuda do Padre mestre Mazarini.

Tive avizo de que nessa curia avia hum italiano, que queria mandar hum irmão seu a Lisboa pera corresponder com elle, e dar o dinheiro de cambeo a des ou doze menos do que oje se dá aos portuguezes, e que tinha cabedal junto, e daria as fianças necessarias, obrigando sse a pagar os creditos e letras do ditto seu irmão, e que assistiria com dinheiro pera seus gastos ao embaixador ou ministros que Sua Magestade tivesse nessa curia, e vista a altura dos cambeos de oje me pareceo avizar disso a Vossa Paternidade pera que se achar nisto bastante fundamento e pessoa, o trate, e se informe de tudo isto, e do ditto italiano dará rezão a Vossa Paternidade Antonio Francisco que agencea os negocios de Antonio Monis Secretario desta embaixada em essa curia.

ElRey Christianissimo tem avizado com fervoroza instancia a monsieur de Saint Chaumont e aos Cardeais amigos de França pera que apertem as instancias a effeito de ser recebido embaixador de Sua Magestade

e o Cardeal Mazarini as fes particulares em suas cartas, e assi recorra Vossa Paternidade ao embaixador de França, e aos mais amigos, pera ver se podemos avançar isto, pera o que dezejará muito que se achara ja ahi o Cardeal Bichi. Deos guarde a Vossa Paternidade Paris etc. (sic)1

Carta do Conde da Vidigueira,
Embaixador em França, a el-Rei

1644—Julho 27

Sobre as couzas de Roma tive cartas do Padre João de Mattos e de Ferdinando Brandam em que me avizão que sobreviera hum accidente ao Papa de que esteve sem poder falar, e que ficava muito enfermo, e com esta remetto a Vossa Magestade hua lista dos nomes dos Cardeais, e hum papel italiano que se fes sobre as esperanças de novo conclave relatando sse todos os que podião concorrer ao Papado, e as partes e circunstancias de cada hum, e por não aver tempo em que se traduzisse vai escritto na lingua italiana 3.

1

Mss.

6

1 Copia authentica, na BIBLIOTH. NAG., MSS. I, (Corresp. do Marquez de Niza), fol. 83 v.

fol. 97.

2 Assumpto extrunho.

3

› Copia authentica, na BIBLIOTH, NAC., Mss. I, (Corresp. do Marquez de Niza),

Carta do Conde da Vidigueira,
Embaixador em França, a el-Rei

1644-Agosto 10

Senhor

Com esta remetto a Vossa Magestade cartas do Padre João de Mattos, e de Fernão Brandão, pellas quais saberá Vossa Magestade como falleceo o Papa Urbano 8 em 29 do passado, com as mais particularidades de que avizam, ás quais me remetto, as dittas cartas me chegarão por hum extraordinario que o Marques de Saint Chaumond despachou a ElRey Christianissimo com esta nova, e com a occazião della, foi o Doutor Antonio Monis Secretario desta embaixada falar logo a monsieur de Lioni primeiro Secretario do Cardeal Mazarini, e lhe recomendou muito da minha parte, que em todas as cartas, que na expedição deste extraordinario escrevessem ao embaixador de França e aos Cardeais amigos desta Coroa, ein nome do ditto Cardeal Mazarini lhes recomendasse muito os negocios de Vossa Magestade e o assistirem ás deligencias, que sobre elles se fizessem nesta occaziam do conclave, e nas em que os Cardeais se juntassem, a effeito de ser recebido embaixador de Vossa Magestade tanto que se creasse novo Pontifice, e a mesma deligencia foi fazer com o Conde de Briana Secretario de estado, para que as recomendasse em as cartas delRey Christianissimo o que hum e outro prometerão, e eu escrevi ao ditto Marques de Saint Chaumond, e aos Cardeais Bichi e Theodoli, a Nantes avizei que não estando prestes para partir para esse Reino hum navio, que se esperava, se fretasse logo hum barco ligeiro para Vianna, de modo que pudesse Vossa Magestade ter com toda a brevidade esta nova, e fazer com a noticia della o que mais fosse de seu real serviço. A muito alta, e muito poderosa etc. (sic)'.

6

1 Copia authentica, na BIBLIOTH. NAC., MSS. I, (Corresp. do Marquez de Niza), fol. 101.

Carta do Conde da Vidigueira,
Embaixador em França, a el-Rei

1644-Agosto 22

Senhor

Toquei-lhe (ao Cardeal Mazarini) nos negocios de Roma para saber delle se seria conveniente depois da exaltação do novo Pontifice ir embaixador de Vossa Magestade para dar lhe a obediencia como os dos mais Principes sem se esperar que elle mande avizo, ao que me respondeo que sempre era necessario ter eu as ordens necessarias em meu poder, e que o que se podia fazer era dizer o Cardeal Bichi ao novo Papa, que Vossa Magestade lhe mandava embaixador e que ja vinha, porque inda não tirasse resolução de todo avizaria ao menos se estavão as couzas em estado que fosse logo, antes que o Papa o avizasse, apertando o com essa diligencia, e isto mesmo he o que eu tinha ja escrito ao Cardeal Bichi na mesma forma. Aqui ha bons indicios de que os Barberinos se ajuntarão com França para a elleição, porquanto querendo os Cardeais de Castella que se tirasse o bastão de geral das armas a Dom Tadeo irmão dos dittos Barberinos, elles o sustentarão contra os de Castella por mais dous votos, e o Cardeal Antonio pós as armas de França á sua porta, o que não tinha feito em vida de seu tio, do que mais for succedendo irei avizando a Vossa Magestade. A muito alta, etc. (sic).

1 Assumpto extranho.

2 Copia authentica, na BIBLIOTH. NAC., Mss. I, (Corresp. do Marquez de Niza),

fol. 107 v.

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